quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Capítulo um - Colégio Parkyson


Colégio Parkyson

Os moradores de Londres ainda tinham certo receio de tocar a sola dos seus sapatos na calçada do esquecido “Colégio Parkyson”, mesmo que já se fizesse vários anos desde que aquele colégio ainda era habitado. O colégio ficava no centro da cidade, assim tendo acesso a todos os moradores, havia alguns vidros quebrados, janelas pregadas, quase metade do telhado faltando, quem passara ali não desconfiava que outrora fosse o colégio mais importante da cidade, que agora jazia em ruínas e não era mais ocupado.
Todos do local estavam certos de que o colégio já não era mais habitado pelo fato de o último diretor do local ter se suicidado dentro, as pessoas do local concordavam que o velho colégio dava arrepios; três décadas antes uma coisa realmente estranha e terrível acontecera ali, uma coisa que os antigos moradores do local ainda gostavam de discutir quando lhes faltavam outros assuntos mais importantes. A história que já se passara de boca em boca fora mudada de cidadão para outro, requentada por todos,  melhorada e piorada por outros, e ninguém mais sabia qual era a verdadeira história do velho colégio. Todas as histórias, porém, começavam no mesmo ponto: trinta anos atrás, ao nascer do sol de uma bela manhã de verão, quando os estudantes iam para o colégio tomar sua aula matinal, alguns estudantes entraram no local e encontraram todos os empregados mortos, enforcados e postos um corpo em cada sala. E em cada sala havia a seguinte mensagem: “O espírito deste ser jazerá nesta sala para sempre”.
Os estudantes saíram correndo do colégio, aos gritos, berros e choros, até mais adiante onde havia casas, e acordou o maior número de pessoas possíveis.
- Gente morta, gente morta, as pessoas do colégio estão todas mortas – gritava uma garotinha que aparentemente tinha sete anos
O corpo policial foi chamado e a cidade entrou em pânico, curiosidade e muita excitação. Todos ficaram muito tristes com o que acontecera no colégio, pois era um dos maiores bens da cidade. A verdadeira preocupação de todos que ali estavam era a identidade do assassino – pois não havia provas  de que houvera um assassino de sangue frio, para fazer tremenda confusão e amaldiçoar o colégio para todo sempre.
O trágico acontecimento fora parar nas emissoras de televisão, sendo que nem eles e nem a policia revelava o que realmente acontecera ao local; pelo que se sabia o verdadeiro assassino não fora pego, corre boatos de que dias depois de tal chacina o diretor do colégio se suicidou dentro dele, causando mais pânico na cidade, e o fechamento do local.
Após alguns anos do acontecimento, em uma pequena lanchonete que ficava defronte ao colégio, apareceu um antigo segurança que trabalhou no local. Todos o reconheceram imediatamente. Como ele trabalhou anos no colégio, ficou conhecido. Ele chegou ao local anunciando como se tivesse lido um roteiro por horas, que sabia o nome do assassino e de toda verdade. A correria para se aproximar do segurança para saber da história mais de perto foi repentina.
- Diga logo quem é – gritou um senhor que estava parado a porta da lanchonete.
            O segurança não respondeu, ficou ali parado por vários minutos, a cada meia hora pedia outra garrafa de cerveja, depois de vários goles se levantou.
- Eu sei quem é – disse ele em um tom macabro – Foi o...
- Diga logo – gritou o mesmo senhor.
- Me deixa falar? – pediu o segurança sem paciência – o assassino foi o diretor Eric Mcnaill.
- Eric Mcnaill? – exclamaram varias pessoas – Nunca!
Eric Mcnaill era o mais famoso diretor do colégio, trouxe verdadeiras inovações para dentro dele e tornou o colégio o maior da cidade; era muito rico, mas morava em uma humilde casa muito longe do colégio, a riqueza certamente não lhe trouxera felicidade.
Houve muito tumulto na lanchonete, todos queriam saber mais do terrível acidente.
- Sempre achei que ele tinha algo haver com isso – disse uma mulher que estava acompanhada do seu filho no balcão – Nunca gostei dele, ele era assim... Antipático, e tenho certeza de que meu filho não iria estudar lá.
- Não diga isso – era a voz de outra mulher, loira de cabelos longos que iam as costas – Eric foi o melhor diretor deste colégio, colocava minha mão no fogo por ele, se ele tivesse sido elegido para prefeito esta cidade estaria melhor.
- Quem mais poderia ser então? – vociferou o segurança – pelo que todos sabem, os empregados foram encontrados mortos em certa manhã, exceto ele – o segurança pigarreou alto para que novamente todos os olhares se voltassem para ele. – E dias depois, é encontrado morto na sala da direção. É de se esperar que ele tenha algo haver com o assassinato.
Todos trocaram olhares.
- Eu nunca gostei dele – resmungou um homem.
- Foi o dinheiro que subiu a cabeça dele – disse o dono da lanchonete.
A mulher loira se levantou
- Vocês estão malucos! Eric não ligava para o dinheiro, todos vocês tem uma casa melhor do que a que ele tinha, posso garantir isso! – ela levantou os ombros. – E mesmo que tenha sido ele, o que podemos fazer agora? Ele também esta morto! – terminou ela saindo da lanchonete com um sorrisinho falso.
Não se passara pouco mais de um mês e o boato de que o diretor do colégio fora o feitor da chacina se espalhou; boatos que não se sabem se realmente foram verdadeiros, mas que levantaram faixas e gritos de protestos, o temor dos habitantes era enorme, e a pergunta jazia no ar – “Por que ele cometera tal ato?”.
A pergunta até o momento não fora respondida, e os atos de vandalismo tomaram conta do colégio, a policia não conseguia cessar tal displicência, tal era que abandonaram o local sabendo que não tinha mais o que se fazer ali.
Rara era as vezes que a passeata em homenagem aos corpos dos empregados realmente entrava no colégio, mesmo com o passar de trinta anos, o receio ainda era enorme; há quem dizia que teria a alma amaldiçoada quem tocasse um fio de cabelo nas sombras inertes dos muros do velho colégio, para a minoria era besteira, mas há quem ouça tudo que falem.
O jornal da cidade não tinha outro assunto. Trinta anos se passara e sempre havia um bloco, onde falavam sobre as vitimas e regurgitavam sobre o assassino, não mencionara o diretor como assassino, mas de certa forma, mostrava evidências.
No aniversário de trinta anos de fechamento do colégio, fizeram uma retrospectiva dos acontecimentos, mesmo sabendo que os moradores iriam sofrer , passaram duas horas falando sobre o colégio, tal matéria fora repetida durante um mês:
“Hoje... Um dia não muito fiel aos moradores de nossa cidade, é um dia de muita tristeza e desmoralização; hoje passaremos uma retrospectiva dos melhores momentos do colégio Parkyson, tal era o colégio que lecionava para todas as crianças da cidade, o colégio que abrigava as crianças de todas as classes e cedia comida para as carentes. Hoje todos nós, nos perguntamos – o que levaria a alguém a cometer um ato desses? – infelizmente não sabemos a resposta. Será que o proprietário do local estava cansado de só servir e não receber gratidão suficiente? Será que os “obrigados” dados por todos que deixavam seus filhos ali não eram suficientes? Pois é, parece que não. Que todas as almas dos empregados que foram mortos sejam levadas para o céu”.
O segurança que fizera mal ao nome do diretor não foi embora. Ficou e resolveu cuidar do local, dos jardins e de crianças que passavam ali apenas para jogar pedras e quebrar paredes. Diversas foram as vezes que ele tentou vender a propriedade, mas ninguém se declarava doido o bastante para comprar tal monumento.
O segurança, porém, não entrava no colégio, morava em uma pequena casinha que ficava nas propriedades do mesmo, e que tinha uma plaquinha escrita “Segurança” – o tempo foi passando, e o homem segurava as pontas da propriedade, declarava guerra a todas as crianças que se aproximava.
As crianças não eram o único problema que ele viera enfrentar, os adultos e outras pessoas do povoado, criaram um péssimo habito de passar perto do colégio à noite e jogar pedras pintadas de vermelho, segundo eles, para similar o sangue derramado dos trabalhadores. Várias vezes, o grande portão do colégio fora arrancado, arrombado por crianças, todos sabiam que o velho e caduco segurança o colocaria novamente. Certa noite ele requentava um arroz, e da janela da velha casinha, ele pôde observar uma coisa muito estranha no colégio. Pensou rapidamente que eram adultos e crianças fazendo badernas para lhe tirar a paciência. Só podiam estar tentando por fogo, pois havia luz lá dentro e não havia energia no velho colégio. Supostamente era fogo, pois dava para ver as chamas ricocheteando pela janela.
Na velha casa não possuía meios de contato, e o segurança se achava esperto o bastante para cuidar do invasor sozinho. Colocou seu prato de arroz em um pequeno banco dentro da casinha, foi o mais rápido que pôde para o jardim da propriedade, lhe ocorrera o pensamente de pegar as chaves, mas a porta certamente estava arrombada.
Não deu outra. A porta do colégio tinha vários sinais de arrombamento e estava entreaberta, as paredes e as janelas do mesmo modo, ainda com dificuldade o segurança entrou com cuidado no colégio em direção a escadaria de mármore que levava a ala hospitalar, onde ele havia visto a luz.
Passou por corredores cheios de sangue, ficou momentaneamente assustado, o sangue, por incrível que pareça, estava gosmento, molhado e denso. Ele continuou a andar, pensara que como estava velho não tinha muito a perder se encontrasse um esqueleto ali e morresse de ataque cardíaco. Chegou ao corredor que dava a ala hospitalar; via-se a fina luz por entre a fresta da porta. Começou a seguir em direção a luz, e parou defronte a porta e viu algo passar por ela, sem perceber que ele estava ali. Ficou parado, estava em estado de choque, a coisa que passara não tocava os pés no chão; decidiu esperar, não conseguia correr.
A ala estava iluminada por um fogo que ardia no centro da sala, o fogo estava no meio, sendo levantado exatamente por nada. Estava flutuando no lugar, as chamas ricocheteavam para os lados, o barulho do fogo era baixo e leve, dava para ouvir os sussurros de uma voz aguda e rouca lá dentro.
- Não quero ser interrompido enquanto estiver em transe. Acho que consegui. – Era a voz de um homem.
- Está certo, meu amo – respondeu uma segunda pessoa, a voz também parecia ser de um homem, era mais fraca e leve que a anterior.
O silêncio havia reinado no local, mais fora quebrado pela mesma voz aguda.
- Pronto. – anunciou a voz.
- Está pronto meu amo? – balbuciou a segunda voz – Ele veio?
- Sim, veio. – a voz estava mais forte – Vou ser rápido.
Com um vento descomunal a porta fora aberta e o segurança arremessado para longe de onde estava. Caiu deitado, batendo a cabeça na parede. Segundos depois, ainda massageando o local atingido, seu corpo levantara sem sua permissão, agora flutuando em direção a ala hospitalar; foi depositado no centro da sala, perto de onde o fogo ardia.
- Você – começou a voz aguda – Você...
Após a queda não conseguia abrir os olhos, mais sentia a voz fria e gélida em seus ouvidos
- Eu... Eu o que? – disse gemendo, sentia muita dor.
- Vamos... Abra os olhos! – Gritou a voz.
Como se tivesse recebido uma ordem, os olhos dele abriram e ele estava à frente de dois vultos negros que não tinha seus pés a mostra, muitos menos seus corpos tocavam o chão, estavam flutuando.
- Quem, que... Quem são vocês? – perguntou o velho tentando manter a calma.
Com uma risadinha de deboche a voz aguda respondeu:
- Sou aquele a quem você despertou certo interesse... – o vulto se aproximava. – Você disse a todos que Eric matou seus empregados...
O corpo do segurança congelou de medo.
- E acertou... – a voz mudara, tinha um tom de raiva – Deu com a língua nos dentes, ser desprezível! Agora, Eric, terá sua chance de vingança.
 Ele tornou a fechar os olhos.
- Abra os olhos, enquanto eu me dirijo a você! – gritou a voz – Abra os olhos!
Os olhos do segurança novamente abriram-se sem sua vontade e uma mão ossuda estava parada a meio metro da sua cabeça. Era o outro vulto, poucos centímetros mais baixos que o anterior, enquanto esse apontava a mão esquelética para ele, o outro sorria orgulhoso.
- Morra Charles.
Com um estampido e um estouro, a última coisa que Charles vira foi à mão ossuda e esquelética do vulto, uma mão podre, sem pele, e um jorro de luz azul ocupar sua visão e ele cair ali, inerte.


Um comentário:

  1. Caara muito bom!!
    To doido pra lê o resto...
    deve se muito bom a continuação.
    A gente ta esperando.

    ResponderExcluir